
A Associação Povos da Mata de Certificação Orgânica Participativa, através do núcleo Raízes do Sertão, realizou entrega de certificados da conformidade orgânica para agricultores familiares do semiárido baiano ligados aos pré-núcleos Semiárido Forte e Sertão do São Francisco.
A cerimônia de entrega dos certificados da conformidade orgânica participativa foi dividida em duas partes, a primeira aconteceu, no dia 31 de agosto no auditório do SETAF na cidade de Jacobina e a segunda etapa aconteceu na última sexta-feira dia 2 de setembro, na Vila Bossa Nova, na orla de Juazeiro, e reuniu também representantes das instituições parceiras e técnicos/as que acompanharam o processo de certificação orgânica participativa.
Foram certificadas 53 unidades produtivas no escopo vegetal primário, envolvendo cerca de 161 agricultores (as) distribuídos nos municípios de: Miguel Calmon, Várzea do Poço, Capim Grosso, Umburanas, Caém, Ourolândia, Sobradinho, Juazeiro, Santo Sé, Casa Nova, Uauá e Campo Alegre de Lourdes.
CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA PARTICIPATIVA
O coordenador do projeto, Cláudio Lyrio, destaca que a culminância com a entrega dos certificados foi um momento histórico para os Território do Piemonte da Diamantina e Sertão do São Francisco porque “temos agora dois Pré-núcleos criado e ligados à Rede Povos da Mata, temos grupos em funcionamento e isso pode ser a semente que foi lançada para que novos grupos, novos agricultores venham a surgir”. “É um desafio que trouxemos para esses território, inclusive no debate das políticas públicas, a questão da Certificação Orgânica Participativa vai ter que estar presente em todos os planejamentos que vão ser executados daqui pra frente”, diz.
Entre as representantes das famílias agricultoras certificadas estava Cléa Pereira, da comunidade Itapera, no município Sento Sé. Em meio a outras produções, se destaca o cultivo de acerola, que, durante o período de safra, chega a render 50 caixas por dia. Já são mais de sete anos de dedicação produzindo de maneira agroecológica e agora, com a conquista deste certificado, ela espera ampliar o alcance dos demais produtos, principalmente na feira da cidade. “Na minha banca, agora vou ter o orgulho de colocar o selo, dizendo pra todo mundo que sou uma produtora orgânica! A gente luta há anos tentando levar alimentação para a mesa das pessoas. Só Deus sabe o sacrifício da gente no dia a dia, a luta, o desafio. As pessoas, umas acreditam, outros dizem que é besteira. Mas, deu tudo certo e eu creio que vai dar mais ainda daqui pra frente”, celebra Cléa.
FOCO NA AGROECOLOGIA
A jovem agricultora Raiz Tamarini Lima, do Assentamento São Francisco em Juazeiro, também comemora essa conquista para a sua família e destaca que “foi através da capacitação, que veio junto com a certificação, que a gente conseguiu ter mais acesso à informação e aprimorar a produção para aumentar e diversificar, para que mais pessoas possam se alimentar de forma saudável”. As formações mencionadas por Raiz fizeram parte do projeto da certificação participativa.
O integrante da Coordenação Produtiva da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), Carlos Henrique Ramos, ressalta que as ações tiveram o objetivo de fortalecer as atividades e saberes existentes. “Nós desenvolvemos um projeto com base na Agroecologia, para ampliar os conhecimentos dos agricultores, reconhecendo o que eles já tinham sobre esse tema e procuramos agregar valor aos produtos”, aponta Carlos. Segundo ele, houve um aumento na quantidade e diversidade da produção. “Com isso, a Certificação Orgânica passou a ser um instrumento muito valioso para que a gente pudesse fazer um encontro do campo com a cidade”, afirma o integrante da CAR, apontando para o fortalecimento dos mercados.
Segundo Carlos Ramos, o fomento da produção agroecológica e orgânica fez com que esse setor produtivo da Bahia seguisse avançando. “A gente tá contribuindo com 20% da certificação orgânica no Estado da Bahia. Enquanto o Brasil estagnou com o processo de certificação de 2016 para cá, a gente teve um crescimento. A Bahia atingiu o primeiro lugar no Nordeste” afirma Carlos Ramos, que parabenizou os/as agricultores/as pelo empenho, que resultou em bons resultados, mesmo com a ausência histórica dos investimentos ao longo do tempo, que foram mais direcionados para a agricultura convencional.
ALIMENTOS DE QUALIDADE
Carlos destaca que “é, hoje, a agroecologia que é capaz de resolver o problema da segurança alimentar e nutricional, porque ela traz alimento de qualidade É um momento histórico, fantástico que está acontecendo nesses Pré-núcleos”.
Essa preocupação com os planos para o futuro já pauta as ações atuais do recém-criado Pré-núcleo Sertão do São Francisco. A coordenadora, Carmem de Oliveira, pontua que os agricultores celebram essa conquista cientes que de que têm outros desafios e que pretendem “a partir de agora, formar novos grupos para que a gente possa avançar. Para que isso aconteça, a gente já vai iniciar o processo de capacitação com novos grupos de agricultores e agricultoras. Com isso, ampliar o número de pessoas para se inserir no processo de produção agroecológica e orgânica”. Segundo Carmem a ideia é aderir novas famílias ao Pré-núcleo Sertão do São Francisco.
Essa ação é parte final do projeto “Replicação e fortalecimento do sistema participativo de garantia da Rede de Agroecologia Povos da Mata” executada pela Associação Povos da Mata de Certificação Orgânica Participativa, organização contratada pelo Estado da Bahia por meio da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR). A iniciativa conta com co-financiamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).