
Cleber Isaac Filho
Durante anos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra-MST foi visto apenas sob a ótica da ocupação de terras. Pouco se falou, porém, sobre o que veio depois — a construção de um dos maiores sistemas de produção cooperada e sustentável do Brasil, com presença em praticamente todos os estados e atuação crescente em mercados de alimentos, energia e crédito.
O que começou como luta por terra, hoje se apresenta como modelo de gestão comunitária e empreendedorismo rural. Nas imagens que ilustram este artigo, cooperativas como Coopercuc (BA), Cooperbio (PR), Cooperoeste (SC) e Coopervida (BA) exemplificam essa virada histórica. São milhares de famílias produzindo com técnica, certificação e propósito — de forma legal, eficiente e com impacto social mensurável.
Essas cooperativas se organizaram em torno de princípios de economia solidária, mas também aprenderam a dialogar com o mercado de capitais. A agricultura familiar e os assentamentos passaram a ter acesso a crédito estruturado, por meio de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e de modelos de financiamento de impacto socioambiental, desenvolvidos em parceria com instituições como o Grupo Gaia, referência em finanças sustentáveis no país — grupo no qual trabalhei diretamente (falo mais sobre isso em próximo texto).
Esse movimento inaugura uma nova lógica no campo: produção com propósito e responsabilidade financeira. O MST não é apenas um símbolo político — é hoje um agente produtivo real, que exporta, gera renda e contribui para a agenda de transição verde e de segurança alimentar no Brasil.
De “invasores” a empreendedores do campo, as cooperativas do MST mostram que é possível unir reforma agrária, eficiência econômica e sustentabilidade, conectando quem planta, quem consome e quem investe — num mesmo propósito de construir um país mais justo e produtivo.
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Cleber Isaac Filho é hoteleiro, ambientalista, empreendedor e coordenador do Programa Economia Verde