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Leite de jumenta: o “ouro branco” que pode revolucionar a nutrição e a economia do semiárido

Pouca gente sabe, mas o leite de jumenta possui uma composição nutricional semelhante à do leite humano, especialmente no que se refere ao perfil de proteínas e lactose. Mas, diferentemente do leite humano e de ruminantes, apresenta baixo teor de gordura, e ácidos graxos essenciais, sendo considerado um alimento hipoalergênico, especialmente indicado para crianças com alergia ao leite de ruminantes. No mercado europeu e asiático, é um produto de alto valor agregado, podendo alcançar preços entre 30 e 50 euros por litro.

Além do consumo direto como bebida, o leite de jumenta é utilizado na fabricação de queijos finos, iogurtes e uma ampla gama de produtos cosméticos, como cremes e sabonetes, graças à sua ação hidratante e regeneradora. Essa versatilidade tem impulsionado novas cadeias produtivas e gerado renda para pequenos produtores.

De acordo com historiadores, o próprio Hipócrates, considerado o Pai da Medicina, recomendava o leite de jumenta a seus pacientes. Há ainda relatos de que, na Antiguidade, Cleópatra utilizava o produto em banhos por suas propriedades cosméticas, reconhecidas por promover hidratação e maciez à pele.

Atualmente, o alimento é objeto de estudo na Universidade do Agreste de Pernambuco (Ufape), em Garanhuns. A expectativa dos pesquisadores é que, até 2026, o leite possa ser oferecido de forma segura para UTIs pediátricas, devido às suas qualidades terapêuticas. O professor e pesquisador Jorge Lucena, que coordena o grupo responsável pelo estudo e detalha o rigor do processo de produção:

“Tudo é desenvolvido com base nas boas práticas. Temos um rebanho controlado, vacinado contra as principais enfermidades, além das boas práticas de ordenha e da pasteurização do leite”. A previsão é que os testes finais para uso em humanos ocorram em breve, permitindo que o alimento esteja disponível para UTIs neonatais dos hospitais de Pernambuco no primeiro semestre de 2026”.

Segundo os pesquisadores, esse modelo já é consolidado em países como a Itália, que serve de referência para o trabalho realizado pela universidade.

Outro especialista na área, o professor de veterinária Gustavo Carneiro, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), reforça que o leite de jumenta reúne características nutricionais e imunológicas únicas, semelhantes às do leite humano.

*Ele destaca que o produto tem grande potencial tanto no mercado nacional quanto internacional, especialmente para crianças com intolerância às proteínas do leite de vaca. Isso abre oportunidades para nichos especializados em alimentação infantil e produtos funcionais, agregando valor à produção de asininos em regiões rurais. “Além do consumo direto, o leite pode ser transformado em derivados cosméticos e alimentos funcionais, contribuindo para o desenvolvimento de cadeias produtivas locais e para a geração de renda complementar aos produtores rurais”, afirma.

O pesquisador também chama atenção para a crescente demanda da indústria cosmética. Rico em vitaminas (A, B1, B2, C e E), minerais e compostos bioativos, o leite de jumenta promove hidratação, elasticidade e regeneração da pele. Cremes, loções, sabonetes e máscaras faciais já atraem consumidores na Europa e na Ásia, onde cresce o interesse por cosméticos naturais. Para Carneiro, o setor também abre espaço para o turismo rural e o agroturismo, com a oferta de produtos artesanais e experiências relacionadas à produção do leite.

O potencial, porém, não se limita ao leite: a pele do animal pode fornecer biofármacos, colágeno e gelatina, insumos valorizados pelas indústrias farmacêutica e alimentícia. Pesquisas universitárias seguem avançando na produção desses derivados, reforçando o caráter inovador da asininocultura dentro da lógica da economia circular — em que resíduos e subprodutos são transformados em biogás, adubo ou farinha de carne e ossos.

Com pesquisas avançando e o interesse do mercado em expansão, o leite de jumenta surge como uma alternativa promissora para a nutrição infantil, a indústria cosmética e a geração de renda no campo. Se os resultados previstos se confirmarem nos próximos anos, o Brasil pode consolidar uma nova cadeia produtiva baseada na inovação, no valor agregado e no uso sustentável dos recursos da asininocultura.

Fotos: Divulgação Ufape.

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