
A cadeia produtiva do cacau no Brasil está diante de um cenário que pode trazer impactos imediatos e profundos. Em ofício enviado ao ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, o presidente da Câmara Setorial do Cacau e Sistemas Agroflorestais, Guilherme de Castro Moura, manifestou profunda preocupação com a tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre amêndoas e derivados industriais de cacau brasileiros.
A medida, publicada em 30 de julho por ordem executiva, retira o cacau da lista de produtos isentos e, segundo o presidente, “inviabiliza sua competitividade no mercado norte-americano”.
Prejuízo bilionário e risco de paralisação
O documento aponta que, apenas no primeiro semestre de 2025, as exportações brasileiras de derivados de cacau para os EUA somaram US$ 64,8 milhões, equivalente a mais de 25% de todo o volume exportado pelo setor no período. “Caso a medida persista, a estimativa de perda é de, pelo menos, US$ 36 milhões ainda este ano”, alerta Moura.
Ele reforça que o impacto sobre a indústria nacional será imediato, com a possibilidade de a ociosidade do parque processador saltar para 37%, especialmente nas plantas industriais da Bahia, Pará e São Paulo. “Estamos falando de empregos, investimentos e da própria manutenção das operações industriais”, pontua.
Moura também chama atenção para o reflexo no campo. “Sem o mercado exportador norte-americano, a indústria poderá ser forçada a reduzir sua produção, levando à diminuição da demanda por amêndoas no mercado interno. Isso tende a pressionar os preços pagos ao produtor, desestimular o cultivo e comprometer a sustentabilidade econômica da cacauicultura”, disse.
A situação é ainda mais delicada na Bahia, que concentra a maior parte da moagem nacional. Segundo dados da SEI citados no ofício, a participação do setor na balança comercial do estado foi de 13,2% entre 2024 e 2025, com crescimento de 63,3% nas exportações de manteiga e pó de cacau no primeiro semestre. “O risco de queda nesse desempenho é real e trará impactos diretos na geração de receitas e empregos”, completa.
O presidente da Câmara Setorial defende uma atuação coordenada entre o governo federal e os governos estaduais produtores para enfrentar a medida. No documento, ele propõe:
- Abertura de diálogo com os Estados Unidos para reverter a medida ou incluir amêndoas e derivados de cacau na lista de produtos isentos
- Criação de um programa emergencial de apoio aos produtores e à indústria, com crédito facilitado e compensações tributárias
- Promoção ativa da diversificação de mercados, com apoio da ApexBrasil, embaixadas e órgãos estaduais de desenvolvimento econômico
Para Moura, “esta é uma retaliação comercial que afeta uma cadeia agroindustrial consolidada e prejudica milhares de trabalhadores e comunidades que dependem da cacauicultura no Brasil”.
Fonte: mercadodocacau