O Oeste Baiano, marcado pela produção de soja e algodão, também desponta na produção da fruta; preço do cacau nunca esteve tão alto; produção no Cerrado é mais de 10 vezes a média nacional
Após cerca de cinco anos, a Bahia voltou a ser o maior produtor de cacau em amêndoa do país. Em 2023, o estado produziu 139.011 toneladas, um crescimento de 0,6% em relação ao ano anterior. Com isso, ultrapassou o Pará, cuja produção foi de 138 mil toneladas, registrando queda de 5,2% em relação a 2022. E os preços do cacau continuam em alta. Praticamente toda a produção foi na Região Sul da Bahia.
Esse aumento da produção passa por produtores do oeste baiano começaram a apostar no cultivo de cacau no Cerrado, em áreas de pleno sol, contrariando o histórico na cultura no Brasil, cultivada em áreas de mata atlântica e de mata na Amazônia.
Antelmo Farias, um dos idealizadores do projeto
”A proposta é utilizar preferencialmente essências florestais frutíferas do Bioma Cerrado, de alto valor agregado, compondo um modelo inteligente de paisagem”, afirma o presidente da Coopercacau1000, Antelmo Pinto Farias.
De acordo com Antelmo, o Coopercacau1000 estima uma renda mínima entre 1.500 e 2.000 reais mês, sem computar a renda agregada das árvores frutíferas do sistema florestal na produção frutas in natura, doces, castanhas, mel, etc.
O projeto inclui também a apicultura, não apenas como agregação de valor, mas também para ajudar na polinização das essências florestais do cerrado.
Os resultados têm sido altamente positivos, com produtividade excepcional. Enquanto a média brasileira é de 330 quilos por hectare, no Oeste baiano, a média alcança impressionantes 3.500 quilos por hectare, ou seja, mais de 10 vezes a média nacional.
Apoiadora da iniciativa, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) foi representada pelo seu presidente, Luiz Carlos Bergamaschi. Ele destacou a importância da diversificação das culturas, ressaltando que “os cotonicultores têm potencial para associar o cacau junto com o algodão”. Para ele, o cacau que se instala na região é uma realidade promissora. “Amparado pelo o que temos de melhor, o potencial ambiental que a Bahia oferece, o cacau traz a diversidade de culturas para a região, promovendo o desenvolvimento econômico e fortalecendo a agricultura do Oeste e a Bahia como um todo”, disse Bergamaschi.
Investimento alto no cacau
Moisés Schmidt
Uma grande produtora de soja e algodão, a Schmidt Agrícola, vai investir R$ 270 milhões para expandir a cultura do cacau na região, conhecida por ser um dos principais polos de algodão do Brasil. O diretor de relações institucionais da empresa Moisés Schmidt, disse a revista Exame que o investimento visa explorar o alto valor agregado do cacau e atender à crescente demanda global.
A aposta na cultura do cacau não é novidade para a Schmidt Agrícola. Desde 2018, a empresa tem ampliado seu portfólio de produtos como parte de uma estratégia de diversificação de negócios — além de cacau, a empresa produz algodão, soja, milho e frutas.
E a empresa está desenvolvendo um segundo projeto, que pode quadruplicar o investimento, chegando a R$ 1 bilhão. Globalmente, os principais produtores de cacau, Costa do Marfim e Gana, têm enfrentado grandes desafios devido a questões climáticas e o preo do produto aumentou no mercado internacional
“Estamos obtendo grande sucesso, tanto na produção agronômica quanto na visão social e trabalhista relacionada ao cultivo. Vejo o cacau com muito otimismo, assim como enxergamos o algodão há 25 anos. Sinto que estamos em um momento promissor em relação a essa fruta”, afirma Schmidt.
Quem é a Schmidt Agrícola
A história da Schmidt Agrícola começou em 1979, com a chegada do patriarca Paulo Ambrósio Schmidt e sua esposa Helena ao oeste da Bahia, onde iniciaram as atividades agrícolas cultivando arroz e soja.
Nos anos 1980, Paulo introduziu o plantio direto, uma técnica inovadora para a época que ajudava a preservar a qualidade do solo. Três anos depois, a empresa fez um investimento ousado na construção de uma estrutura de armazenagem de grãos com capacidade para 12 mil toneladas.
A diversificação das culturas começou em 1994, com a introdução do milho, e em 1999 a empresa expandiu para o cultivo de algodão. O grande marco veio em 2010, com a formalização do condomínio entre os quatro irmãos, que atualmente gerenciam diferentes áreas da empresa.
Segundo o diretor, a terceira geração, que será responsável por dar continuidade à empresa, já está sendo preparada. “Vale lembrar que são jovens que ainda estão na escola, alguns já ingressando na faculdade. Eles também participam do conselho familiar, criado especificamente para essa transição”, destaca Schmidt.
Atualmente, a empresa administra 25.400 hectares, distribuídos entre propriedades próprias, arrendadas e áreas de reserva legal.