
Por Eunice Gutzeit

Apesar dos preços recordes do cacau devido à escassez de matéria-prima no mercado global — agravada pelas mudanças climáticas e pelas doenças que afetaram a produção na África, principal fornecedora mundial —, ainda enfrentamos desafios significativos.
No Brasil, a infraestrutura precária continua sendo um entrave para o setor, especialmente no estado do Pará. A falta de pavimentação na Rodovia BR-230, a Transamazônica, entre Medicilândia e Rurópolis, encarece os insumos e dificulta o escoamento da produção. Esse cenário impacta diretamente milhares de produtores paraenses, responsáveis por aproximadamente 86,6 % da produtividade estadual, totalizando cerca de 143.675 Toneladas , o que equivale a 53% da produção nacional segundo dados da Sedap(2024).
Investimentos e inovação
Após mais de quatro décadas de atuação no setor, a valorização do cacau tem permitido novos investimentos em tecnologia. Estamos avançando com sistemas de irrigação e automação no beneficiamento dos frutos, incluindo a aquisição de máquinas para quebra de cacau, uma medida essencial diante da escassez de mão de obra local.
Este é um momento estratégico para modernizarmos a infraestrutura, buscando aprimorar a qualidade do nosso cacau e expandir nossa presença em mercados de alto valor agregado.
Perspectivas para 2025
Para 2025, a expectativa é que os preços se mantenham estáveis e que a indústria evite a importação de excedentes da África. Essa medida é crucial para evitar desvalorizações no mercado interno e impedir a entrada de novas doenças, sobretudo considerando que a IN 125 ainda não oferece a segurança fitossanitária necessária.
Uma das maiores preocupações do setor atualmente é a Monilíase, já presente nos estados do Amazonas e Acre. O avanço dessa praga poderia comprometer gravemente a produção nacional.
Próxima safra e sustentabilidade
Ainda é cedo para uma estimativa precisa da próxima safra. Atualmente, não há mais projeções nacionais da Ceplac, e as estimativas são realizadas apenas para o Pará, em parceria com a Sedap. Os dados do IBGE também ainda não foram divulgados.
A florada deste ano sofreu um ligeiro atraso, resultado da forte seca entre setembro e dezembro. No entanto, estamos otimistas: com o retorno das chuvas dentro da normalidade, a expectativa é de uma boa safra a partir de junho.
Além disso, estamos nos preparando para atender às exigências do Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR). Para garantir a conformidade, implementamos ferramentas de rastreabilidade e documentamos que nosso cacau é produzido em áreas que preservam 80% das propriedades, além de contar com mão de obra regularizada.
Visão de futuro
Nosso objetivo é consolidar uma cadeia produtiva unida, promovendo um consumo responsável e fortalecendo o diálogo entre produtores, chocolateiros e a indústria. A cacauicultura brasileira tem potencial para ocupar um espaço de destaque global, combinando sustentabilidade, qualidade e inovação.
Com investimentos contínuos, políticas adequadas e cooperação entre os elos da cadeia, podemos transformar o Brasil em uma referência mundial na produção sustentável de cacau.
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Eunice Gutzeit é produtora e vice-presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC).