
No Rio de Janeiro, o dia do cacau foi marcado por um momento histórico para o estado, pela primeira vez se falou em cacau com vontade de investir e avançar na expansão dessa cadeia produtiva. O Movimento CACAU RJ, juntamente com o gabinete da deputada Lucia Marina dos Santos, a Marina do MST, através de políticas públicas para alimentação e propósitos agroecológicos realizou no dia 26 de março – dia do cacau – um momento histórico e inédito para o estado do Rio de Janeiro, a 1ª reunião ampliada sobre a cadeia produtiva do cacau.
O Estado conta um extenso corredor que se inicia em Costa Verde/Paraty e se estende até o norte fluminense, o coletivo propõe pautas de processos relacionados à expansão da cadeia do cacau no estado e que expressam propostas e demandas vindas dos pequenos produtores, uma vez que esses demonstram imenso interesse em aprender sobre o cultivo, produzir cacau de excelência e estabelecer uma nova economia circular e solidária no contexto da agricultura do estado do Rio de Janeiro. Há um desejo urgente possível de atribuir às propostas já existentes, soluções e encaminhamentos anteriores que ganharam corpo e apoio dos atores presentes nessa reunião.
Desta forma, com a união das secretarias e organismos de representantes do meio ambiente, agricultura, sustentabilidade, planejamento estratégico, desenvolvimento de projetos, economia, políticas públicas, entre outros, foi acordado a criação de um GT que vai se dividir em três eixos e implementar em suas agendas as tratativas que deem voz aos pedidos para ampliar essa cadeia e transformar o território fluminense em um grande programa que traga viabilidade econômica a esse ciclo que se inicia com grande demanda e vontade de ser e, que dentro do seu caminhar, vem revelando processos organizativos e ações isoladas que criam redes e elos que transpassam as demandas territoriais e buscam fazer um crescimento harmônico dessa nova rede.
Conscientes desse processo, os coordenadores ampliaram o olhar para as particularidades financeiras que demandam o acesso e permanência nessa construção e, mesmo tratando de territórios distintos, todos necessitam do apoio governamental para acontecer e atuar de forma transversal e definitiva, sendo inicialmente um movimento micro e basilar mas com fortalecimento para crescer de forma macro e forte.
Foram mobilizadas a comparecer, dentre outras, as seguintes entidades: EMATER, SEBRAE, SEAPPA, PESAGRO, Secretaria de Agricultura, Secretaria do Meio Ambiente, Secretaria do Turismo, SESC, Produtores de cacau, Chocolateiros, Consea-Rio, universidades e As-pta, reunidos e juntos encontraram uma solução frutífera e próspera para essa nova demanda que está presente há muito tempo mas que nunca fora olhada de maneira completa.
Ainda no encontro aconteceu a apresentação de duas PLs já protocoladas pelo gabinete da Deputada Marina do MST que traz a criação do selo do cacau fluminense com o objetivo de atestar a sustentabilidade e o interesse social e ambiental da cacauicultura fluminense.
“Estamos ansiosos para iniciar os trabalhos aqui no estado do Rio e começar a se relacionar com os outros colegas da lida do cacau e intercâmbios que possam trazer vida longa ao trabalho que se inicia aqui, certos, de que os processos serão extremamente produtivos e recompensadores para todas as partes envolvidas, estamos muito felizes com essa nova demanda para o estado”, destacou Patrícia Nicolau, da coordenação do projeto.
Sobre a coordenação do Movimento CACAU RJ
Há dois anos, um coletivo idealizado por Patrícia Nicolau, visava pensar maneiras de discutir sobre a contribuição de algum organismo para o beneficiamento de cacau de pequenos produtores de algumas regiões do estado. Depois de 4 anos em atuações em diversas frentes de políticas públicas para alimentação, Patrícia criou uma coordenação com cincos membros que também pertencem à coordenação GT Slow Food Cacau e Chocolate – Natan Pinto, da ENNE Chocolates; Ronaldo Menezes, da Black Cacau; Paulo Leite, do Sítio Cerejeiras e Janus Chocolate e Beatrix da Cacau Ancestral – e juntos organizaram a primeira reunião ampliada com 43 atores, supracitados e que a partir de agora, formam um GT para desenvolver projetos estratégicos que possibilitem uma expansão cacaueira robusta que possa de imediato atender a demanda interna dos produtores de chocolates do território.
Unidos por um mesmo propósito, o Movimento CACAU RJ e os representantes dessas diferentes frentes desejam avançar a partir desta safra 2025 e pensar alternativas urgentes de escoamento para esse cacau.
Outro ponto importante são os diagnósticos de campo que vêm sendo realizados por Natan Pinto e Paulo Leite com a finalidade de entender as prioridades de cada produtor e, dessa forma, traçar metas que viabilizem qualidade produtiva das amêndoas de cacau para depois pensar em regeneração de solo, produção de mudas e territórios possíveis para alcançar quantitativos que tragam expressividade para o mercado desse cacau fluminense .
Os caminhos do cacau no RJ
E tem cacau no Estado do Rio de Janeiro? Até tem, mas nada comparável ao que existe na Bahia e no Pará, por exemplo. Temos cacau em Paraty, Angra, Guapimirim, Magé, Cachoeiras de Macacu, Bom Jesus de Itabapoana e região e no corredor que se estende de Casimiro a São Gonçalo. Há propriedades com 150 pés e outras com 30 mil pés de cacau, o que é um número bem razoável e com reais intenções de aumentar e fazer do estado um bom produtor de cacau. Tudo isso resulta em uma nova economia que se conecta com outros territórios, podendo alcançar exportação sim, por quê não?
Mas vários destes proprietários de cacaueiros não sabem muito bem o que fazer com os frutos, isso prova o quanto precisamos criar capacitações, criar caminhos, criar economias, rotatividade desse insumo ir além e alcançar restaurantes, festivais, feiras, enfim o cacau deve entrar na cultura do estado de maneira massiva e ser mais presente no cotidiano de todos.
Em Paraty, muita gente tem cacau, mas não há habilidades com o manejo para o fruto, e também não há escoamento da produção. Os produtores, na tentativa de entenderem o beneficiamento, têm feito alguns experimentos e buscam alternativas para se aprofundar no entendimento da dinâmica com o cacau. No último ano, a Fazenda Bananal criou uma capacitação e buscou por dois colaboradores do Pará e Bahia para desempenhar esse papel com os produtores de cacau, mas nem todos conseguiram ser atendidos.
Existem Chocolate Makers e que usam o cacau do estado, e temos outros que produzem chocolates a partir dos seus cacaueiros e esse número vem crescendo cada vez mais.
Para incentivar a produção de cacau e chocolate no Estado do Rio de Janeiro, foi criado o grupo Chocolateiros do RJ, que reúne produtores de cacau, pesquisadores, produtores de chocolate, apreciadores de bons chocolates, sommelieres e pessoas interessadas em colaborar com o crescimento da cadeia do cacau no RJ. Esse coletivo iniciou-se com 7 pessoas, na época e hoje somam-se mais de 100 pessoas com o mesmo propósito e vontade de ver essa demanda ir adiante.
Um movimento grande foi feito em Guapimirim através de capacitações da As-pta e depois disso o cacau vem sendo a estrela da vez e muitas pessoas começaram a revelar que tem cacau e quer ajuda para ampliar suas roças.
“Trabalhamos na capacitação das pessoas e melhora dos processos de cultivo, colheita e beneficiamento do cacau, com o objetivo de, não só escoar a produção, mas também, e principalmente, a produção de chocolates finos. Finalmente em agosto do ano passado, a AFOJO – Associação da microbacia do Fojo – inaugurou a instalação de uma pequena fábrica de chocolate, que deve começar a operar em maio/junho deste ano, sendo a primeira fábrica de chocolate tree to bar (da árvore para a barra, na tradução literal) de uma associação de agricultura familiar do estado do Rio”. afirma Patricia Nicolau.
“Desejo que juntos possamos pensar em como fazer um caminho próspero para o cacau e chocolates de forma justa que prezam por economia solidária e circular, ampliando os horizontes cacaueiros deste estado”, finaloza.
(Fotos: Bel Lins)