Chocolates Premiados da América Latina: o que aprendi ao mapear marcas, ingredientes e narrativas

Juliana Recuero Ustra

Na aula do dia 22 setembro compartilhei com vocês um recorte inédito da minha pesquisa: a análise profunda das etapas 2024 e 2025 do International Chocolate Awards para o escopo da América Latina e Caribe. Este é apenas o começo — ainda não finalizei a análise do Peru nesses dois anos, nem a leitura detalhada dos resultados latino-americanos dentro da etapa Américas 2023. Ou seja: muito trabalho e descobertas ainda estão por vir.
Paralelamente, sigo um segundo eixo de investigação: vou examinar somente os dados latino-americanos nas edições do Academy of Chocolate, em Londres. Minha meta é compreender de forma comparativa a performance do Brasil e das demais origens da América Latina dentro desse concurso europeu.
Esse processo de pesquisa nasce de uma inquietação minha: quais são as narrativas que os chocolates latino-americanos estão construindo ao ganhar espaço no mercado global? Para dar conta dessa pergunta, elenquei 14 questões de investigação, que hoje guiam meu banco de dados e minhas análises.
Pauta da aula: marcas e narrativas
Para nortear esta pesquisa elenquei as seguintes perguntas, as quais me fazem buscar informações dentro de um grande contingente de dados na minha planilha:
E posso compartilhar alguns insights o que encontrei ao analisar estes chocolates:
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Afetividade através do chocolate: lembranças, memórias e vínculos emocionais traduzidos em sabores.
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Sustentabilidade cultural: inserção de elementos históricos, ingredientes de cadeias locais e narrativas de pertencimento.
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Biodiversidade e cultura alimentar: uso de ingredientes regionais como ativos de storytelling — entrelaçando gastronomia popular e chocolate.
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Orgulho da origem: evidência da procedência do cacau como símbolo de identidade e valorização da terra e dos territórios.
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Fusão gastronômica latino-americana: diálogos entre sobremesas, ingredientes e tradições de diversas regiões dentro deste nosso espaço.
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Ancestralidade como guia: presença de referências a rituais, espiritualidade e práticas alimentares tradicionais, que revelam como o chocolate segue sendo ponte entre passado e presente.
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Terroir, território e pertencimento: o cacau e seus derivados reforçam não apenas sabores únicos, mas também vínculos identitários entre o produtor, a comunidade e a paisagem de onde emergem.
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Espiritualidade e ritual: uso de ervas medicinais, referências ritualísticas e simbologias que conectam chocolate à dimensão sagrada da alimentação.
Banco de dados e descobertas
Na primeira etapa da pesquisa, levantei 69 infusões e inclusões diferentes encontradas nas formulações premiadas. Esse mapeamento já revela padrões e, sobretudo, o enorme potencial para transformar ingredientes em narrativas de marca. É exatamente aqui que vejo como posso apoiar meus clientes: traduzindo dados e tendências em estratégias de branding e storytelling aplicadas ao chocolate.
Além dos ingredientes, também analisei como essas marcas se expressam através de elementos narrativos visuais e estratégicos, como:
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design de rótulos,
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formatos de comercialização,
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protagonismo do produtor de chocolate,
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consistência da comunicação.
O caminho continua
Essa pesquisa é viva, em movimento. Cada marca, cada ingrediente e cada resultado trazem aprendizados sobre como o chocolate latino-americano está se posicionando no mundo.
Estou apenas no começo — e já aprendi muito. Continuo investigando, cruzando dados, analisando categorias e edições, anotando meus insights, sobretudo, compartilhando esse conhecimento para inspirar o mercado e fortalecer o ecossistema do chocolate de qualidade na América Latina.