
por Paulo Peixinho, produtor de cacau e consultor

O mercado de cacau no mundo e no Brasil subiu de 2,5 a 12 mil dólares, por uma miríade de fatores que em geral atingem às commodities agrícolas: clima, doenças e pragas, oferta e demanda, variação de moedas, dentre outras mais particulares de cada indústria, no cacau a manteiga subiu de 4 dólares para 40 dólares o quilo.
No sul da Bahia, onde vinhamos sofrendo de preços baixos, doenças (vassoura de bruxa) endividamento falta de crédito, falta do Estado.
O aumento do preço de R$ 200,00 a arroba para R$ 1.000,00 causou uma “euforia”.
E toda “euforia” causa uma “discognição”. Até justificável para nós produtores de cacau que vínhamos atravessando o “Mar Vermelho” e imaginamos que tínhamos chegado à “Terra Prometida”, nesse mar vermelho tem muitos tubarões.
Retornando a ser objetivo: o mercado subiu porque tinha muitos fatores altistas:
1) maior seca desde 1946 na Costa do Marfim; doença (broto inchado) que mata a árvore do cacau; caiu a produção;
2) déficit de produção mundial;
3) impacto também em Gana e Nigéria;
Diante deste fundamentos, muitos investidores que iniciaram as compras a $2,000 dólares, não liquidaram e mais compradores entraram na Bolsa. Não esqueçamos que hoje muitos operadores são baseados em modelos via IA.
O mercado atinge em abril/24 à 1000,00 @ e cai depois a 625,00@ (o vai e vem normal).
Após este período ficou entre 600/850@. Em dezembro/24 o mercado atinge a US$12.000,00. Novamente o mercado interno vai a 1000,00@ e a 1157,00 @. Alguns grandes produtores conseguiram a 1200,00@ (e fixaram até dezembro deste ano). A paridade real dólar estava 6,00 reais.
Como dizem, uma tempestade quase perfeita na África, beneficiou os produtores de outros países.
Diante do impacto, os grandes comerciantes internacionais estiveram preocupados com riscos de default (não recebimento). As indústrias sofreram o impacto do aumento de custo da mercadoria, inclusive financiamento de estoques e de produção.
As altas retraíram a demanda, os consumidores substituíram por o cacau por outros produtos. Isso levou o mercado a cair, apesar da queda de demanda ser bem menor do que a queda da produção.
Posteriormente, o clima inicia sua regularização na África, muitos investidores que estavam vendidos saíram do mercado com muito prejuízo (apenas um trader de energia negociando com perdeu R$ 1,5 bilhão de seus clientes).
O mercado inicia um processo de “normalidade” diante dos fatos já sabidos.
O preço na Bolsa cai, o dólar/real retrai em 15% (de 6,00 para 5,28).
A indústria local que chegou a pagar 2,5 mil de prêmio reduz para um deságio (variável de 1500 (hoje).
Esta é a minha visão do mercado hoje.
Como produtor vejo a médio e longo prazo um mercado promissor, porque a qualquer momento a doença na Costa do Marfim, e Ghana continua se alastrando (50% ou mais em cada pais) vai atingir fatores críticos, as árvores estão velhas, a falta de apoio técnico, e os preços baixos recebidos pelos produtores africanos, ainda com essa alta é um fato desestimulador. (sugiro que leiam no LinkedIn uma reflexão de Roberto Lessa.
Ele escreveu: “Se África cair sua produção em 70%, como aconteceu no Brasil, será preciso entre 2 a 3 milhões de hectares plantados. Isso não se faz em pouco tempo”. Lembrando que na virada do seculo XIX para XX, o Equador foi atingindo pela Vassoura de Bruxa, os tempos são outros, mas levaram 125 anos para este país retornar aos cinco primeiros na produção, podendo ir a segundo lugar, com 600 mil/Tons logos mais, três vezes mais que o Brasil.
O tema é mais complexo e dizem: “para um problema complexo não existe solução simples”.

Um olhar minucioso para a cadeia agroalimentar do cacau e chocolate, podemos enxergar os gargalos de cada setor, e isso se faz necessário: – desde a busca de parlamentares que representem o cacau na bancada federal, a interlocução com os governos, diálogo aberto com a indústria, inovação, busca de créditos, solução do problema da dívida,
Ao colega produtor afirmo, não se desespere, quem já viveu 30 anos de guerra (1995/2025) temos habilidades para enfrentar novos desafios com racionalidade. E é na crise que devemos criar soluções.
A safra africana inicia em 1 de outubro e esse trimestre é fundamental para o cenário do cacau.
Por fim, o mercado caiu por que subiu muito em pouco tempo. Mas, com certeza preço muito alto não é bom para o setor. Deixo as palavras do fundador da Chadler, Sr. Jacob Chindler: “peixe pequeno é um bom peixe”, (adágio iídiche). Traduzindo: lucro pouco nunca matou ninguém.
E lucro pouco é melhor do que lucro nenhum.
Esse mercado caiu, mas voltará a subir. Eu espero e desejo