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Mia Couto: “Jorge Amado influenciou uma geração de autores africanos”

Escritor também fala sobre impacto da guerra na literatura

No Brasil para o lançamento do seu novo livro, A cegueira do rio, editado no País pela Companhia das Letras, Mia Couto  foi um dos destaques da 7ª Festa Literária de Ilhéus. Ao destacar a importância de Jorge Amado, que projetou a chamada Civilização Cacaueira para todo o planeta, para os autores africanos, ele  recordou o episódio em que a mesma editora reeditou toda a obra amadiana e reuniu personalidades da cultura  para a cerimônia de lançamento, em 2008, em São Paulo. Entre os convidados, ele, Chico Buarque e Caetano Veloso.

“No avião, eu pensei: eu leio tão maleu com esse sotaque mais português do que brasileiro”, contou o moçambicano. Ao invés da leitura, decidiu explicar como Jorge Amado atravessou o Atlântico para ser um parteiro na África:

– Ele influenciou a criação de uma literatura que estava a querer nascer, em processo de parto, em Angola, São Tomé, Guiné Bissau, Moçambique e Cabo Verde. Então, colecionei depoimentos de escritores desses países que diziam quanto Jorge Amado os ajudou a encontrar um caminho.

Mia Couto destacou a capacidade do autor grapiúna de construir personagens complexos a partir de tipos populares, o que, segundo ele, foi surpreendente para gerações inteiras na África lusófona. “A primeira questão era como é que a gente vai fazer este pescador, esse marinheiro, essa pessoa que passa em frente da minha varanda, da minha porta, se transformar num personagem que tem todo o direito de ter uma história, e eu trago esta história para o papel. Esse era o primeiro desafio”.

O segundo, segundo ele, era desbravar um caminho na língua herdada da colonização para reinventá-la. A inspiração estava do outro lado do Atlântico:

– A gente tinha uma outra licença para usar uma língua que foi deixada pelo colonizador, mas tinha que ser ajustada às nossas culturas. E a resposta vinha do Brasil. Vinha do Jorge Amado, de outros poetas, do Guimarães Rosa, do Manoel de Barros. Toda essa gente trouxe essa autorização, essa licença para a gente recriar o português da nossa maneira. Se eles fazem lá no Brasil, também podemos fazer nós no nosso lar.

 

GUERRAS E LITERATURA

Numa rápida entrevista na chegada ao Centro de Convenções, Mia Couto falou ao jornalista Daniel Thame sobre o impacto das guerras na sua obra literária: “a guerra tem um lado terrível, elas desarrumam o mundo, desumanizam as pessoas. A literatura busca reencantar o lado humano em meio à tragédia, dar uma perspectiva de futuro. Em Moçambique tivemos dezesseis anos de guerra civil e foi ai que escrevi Terra Sonambula, que podia curar a mim próprio desse desespero”, disse Mia.

Segundo ele, “existem ´guerras invisíveis´  em várias partes do mundo como o Sudão por exemplo, e o mundo não toma conhecimento. Essa é mais uma injustiça que se soma à própria injustiça das guerras”.

 

 

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