
Deborah Faria
A ciência avança em pequenos passos – e é justamente nesse caminhar que está o prazer de fazê-la. Hoje, demos mais um passo importante para entender como o desmatamento de uma paisagem afeta a capacidade de regeneração das florestas tropicais do sul da Bahia. Desde 2010, um estudo belíssimo vem sendo desenvolvido por um time extraordinário de cientistas e estudantes de pós-graduação. Já sabíamos que o desmatamento reduz a diversidade de arvores jovens de espécies tolerantes à sombra – aquelas típicas de florestas bem preservadas.
Mas ainda restava uma pergunta fundamental: quais são os mecanismos que explicam essa perda de diversidade? Em outras palavras, como exatamente o desmatamento provoca essa redução? Neste novo artigo, testamos se a diminuição na abundância e na riqueza de árvores jovens deste grupo poderia ser explicada por fatores diretamente desencadeados pelo desmatamento, como: alterações na estrutura da vegetação, redução na diversidade de árvores adultas e de potenciais dispersores de sementes, e aumento da competição com espécies intolerantes à sombra.
E o que descobrimos? Que a única variável que de fato explica a redução na abundância de jovens de árvores tolerantes à sombra é a menor abundância de árvores adultas deste grupo de espécies. Esse é o chamado efeito de fonte: quanto mais desmatamos a paisagem, menos árvores adultas restam nos fragmentos florestais, e isso reduz diretamente a quantidade de jovens que conseguem se estabelecer para regenerar a floresta. No entanto, ainda não conseguimos explicar completamente por que há também uma queda na riqueza de espécies jovens – ou seja, na variedade de espécies tolerantes à sombra. Isso mostra que ainda há muito a investigar. Mas o que já descobrimos é essencial e aponta para dois caminhos importantes: 1.
Sem ações de manejo local, continuaremos perdendo tanto indivíduos quanto espécies de árvores tolerantes à sombra e 2, a restauração da paisagem é fundamental para frear essa perda e preservar a diversidade característica das nossas florestas tropicais, embora seja imperativo outras ações conjuntas. Nosso artigo aprofunda essa discussão e traz reflexões importantes para orientar políticas públicas e ações de conservação. Afinal, entender a floresta é o primeiro passo para protegê-la.
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Deborah Faria é doutora e mestre em Ecologia pela Unicamp, Professora Plena da UESC e coordenadora do Laboratório de Ecologia Aplicada à Conservação (LEAC). Realiza pesquisas sobre a biodiversidade em paisagens modificadas pelo homem, buscando entender os impactos do desmatamento e a conversão de florestas em outros usos sobre as espécies e o funcionamento dos sistemas.

Artigo publicado em www.sciencedirect.com
As fotos de autoria da professora Larissa Rocha, uma das autoras do trabalho, ilustram plantas jovens (plântulas) e adultas de Gindiba (Sloanea guianensis), uma espécie da familia Elaeocarpaceae, tolerante à sombra, e que faz parte do grupo de espécies investigadas neste trabalho e que são negativamente afetadas pelo desmatamento.
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