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Cacau pode reflorestar 557 mil hectares no Pará

Sistema Agroflorestal do cacau recupera áreas degradadas e ainda

garante maior rentabilidade aos produtores

Vito Gemaque

O potencial da cacau para reflorestar áreas degradadas na Amazônia localizadas somente no Pará é gigantesca. O Estado possui 557,5 mil hectares de áreas desmatadas e degradadas que podem ser restauradas com o Sistema Agroflorestal (SAF) do cacau, o que corresponde a 750 mil campos de futebol, segundo dados da maior Organização Não-Governamental (ONG) de conservação mundial – The Nature Conservancy (TNC). Atualmente, o Pará possui 170 mil hectares com plantio de cacau. Essas informações levam em consideração apenas os municípios que já possuem produção de cacau, ou seja, o potencial em todo o Estado é ainda maior. Os dados foram expostos durante o último painel no Fórum do Cacau, atividade que aconteceu no VI Chocolat Amazônia – Festival Internacional do Chocolate e Cacau.

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Atualmente, a agricultura familiar é responsável por aproximadamente 35% do desmatamento de áreas no Pará, que são voltadas para a criação de pasto para gado. Por outro lado, a cacauicultura não precisa derrubar árvores. O cultivo do cacau alia a produção do fruto com a existência de outras árvores frutíferas e espécies da região amazônica. Por ser uma planta natural da Amazônia, o cacau (Theobroma cacao) está totalmente adaptado ao clima, à região e à vida com as outras espécies de plantas e insetos. Esses sistemas agroflorestais ainda formam zonas de microclimas com temperaturas mais amenas. O novo Código Florestal respalda o produtor para utilizar o SAF de Cacau para recuperar as áreas que foram degradadas.

 

Outro benefício é que o Sistema Agroflorestal do cacau ainda garante maior rentabilidade para as famílias do que a pecuária. De acordo com estudos de viabilidade financeira divulgados pela TNC, em aproximadamente cinco anos, um pasto ruim começará a gerar retorno financeiro, enquanto que o cacau consegue pagar o investimento na metade deste tempo, em dois anos e meio. E após esse tempo, já começa a gerar lucro para o produtor. A rentabilidade da SAF do cacau chega a ser de sete a dez vezes maior do que a pecuária. Se a área for bem manejada, tem potencialidade para ser produtiva por 60 anos.

Oportunidade – “Através do fomento à cacauicultura com integração de outras culturas agrícolas e florestais é possível melhorar a renda do agricultor, melhorar a diversidade alimentar da família, ao mesmo tempo em que se recuperam áreas degradadas ou de baixa produtividade. É uma lógica do desenvolvimento sustentável com claro benefício social, econômico e ambiental. A cadeia da cacauicultura é uma grande oportunidade para o Pará, porque tem toda uma estrutura produtiva. Há uma demanda social pelo aumento de produção no campo, e as indústrias estão cada vez mais querendo comprar  cacau daqui”, explica o vice-gerente da estratégia de restauro florestal da TNC, Rodrigo Freire.

 

Rodrigo conversaou com vários agricultores familiares no painel “Sistema Agroflorestais com cacau como forma de melhoria de vida no campo, conservação e restauração da floresta Amazônica”, do Fórum do Cacau, que acontece no VI Chocolat Amazônia Festival. A TNC trabalhou com mais de 50 famílias ajudando a restaurar 500 hectares de pastos antigos por sistemas agroflorestais nos municípios de São Felix do Xingu e Tucumã.

Vice-gerente da estratégia de restauro florestal da TNC, Rodrigo Freire, Vice-gerente da estratégia de restauro florestal da TNC. (foto Marivaldo Pascoal)

 

Uma das agricultoras assistida pela TNC, Valcilene dos Santos Primo, de São Félix do Xingu, confirma os benefícios para os pequenos produtores. Para ela, a cacauicultura trouxe também autoestima para os produtores rurais por saberem que estão produzindo e preservando a natureza. “Nós precisamos reflorestar as áreas degradadas. Eles [TNC] levaram o conhecimento na prática, quando você vai no campo com a mão na massa é outra história. Eles trouxeram esse conhecimento e este impulso. Não existe nenhuma classe da sociedade que não dependa da agricultura familiar. Mas os agricultores ainda hoje são menosprezados. Essa é uma forma de nós sermos conhecedores dos nossos valores”, garantiu.

Entretanto, ela destaca que ainda existe uma ausência de conhecimento e de incentivo para que o homem do campo consiga produzir de maneira sustentável. “Eu também tinha vontade de trabalhar com cacau, mas não tinha conhecimento e sem a técnica fica muito difícil, fica inviável”, enfatiza. O apoio da ONG com incentivo e ajuda técnica ajudou Valcilene a ter uma produção de cacau.

 

A crise ambiental da Amazônia acentua a necessidade de mudança de paradigma. No entanto, o processo para mudar a tradição produtiva paraense ainda tem longos caminhos a percorrer. O vice-gerente da TNC pontua que ainda são necessárias muitas ações governamentais e privadas para atingir o potencial paraense. “Estamos falando de um potencial de novos 557 mil, mas isso não é do dia para a noite. É um processo natural da cadeia produtiva. O que falta mais é assistência técnica no campo, seja pública ou privada, troca de conhecimento entre os produtores, fortalecimento das cooperativas e sindicatos para se organizarem mais para buscarem o conhecimento, trocarem experiências e desenvolverem boas práticas no campo e o investimento de bancos interessados em fomentar cadeias produtivas na Amazônia”, lista Rodrigo.

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