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Reflexões iniciais sobre descomoditização do cacau brasileiro

Antônio Carlos Magnavita Maia

 

Diante desse quadro favorável de aumento substancial dos preços do cacau, faz-se necessário, cada vez mais refletirmos sobre um futuro independente para lavoura cacaueira nacional.

Nesse momento único e singular, quando a África vive uma grande instabilidade com desorganização e desarrumação da sua cadeia produtiva, que chega surpreender até mesmo o cartel que, supostamente detém o controle mundial do comércio dessa comoditie.

O que precisamos é aproveitar esse momento promissor e não deixarmos passar essa oportunidade, para elaboração de um projeto soberano que possa estruturar todo nosso segmento, nos tirando de tantas oscilações e nos trazendo maior estabilidade nesse mercado tão volátil.

Assim, entendo que somente o aproveitamento do cacau nacional, abrangendo todos biomas, através de uma empresa industrial moageira, vinculada a uma cooperativa central nossa, e em parceria – BNDES – público-privada, poderá ser a solução que casa com o momento político favorável, onde o ministro da indústria e comércio Geraldo Alckmin vem estimulado a formação de agro-indústrias sustentáveis.

Portanto, através de filiais, poderemos atender a todos estados produtores importantes.
Somente um projeto único-nacional visando agregar valor com a industrialização poderá trazer estabilidade relativa de preços para atender todas demandas econômicas/sociais/ambientais dos nossos diversos biomas, fomentando e estimulando vários polos chocolateiros regionais pelo país, observando suas peculiaridades e características próprias, inicialmente focando em absorver completamente o nosso mercado interno, hoje nr. 4 do mundo, e depois, com análise de mercado, pensar em parte da demanda mundial, com aumento da produção de cacau e consequentemente subprodutos industriais; especialmente o chocolate genuinamente brasileiro.

Obviamente que, precisamos interagir com todos estados-produtores, para orienta- lós com tecnologia adequada, buscando ter o controle de estoque e produção, fazendo projeção de safra e etc. para principalmente podermos trabalhar buscando maior estabilidade na nossa comercialização, pois, enquanto ofertadores, seremos sempre subjugados pelos compradores que controlam a bolsa, formando o cartel oligopsônico.

Assim poderemos redirecionar, tomando as rédeas do nosso próprio destino, com maior controle sobre oferta-procura, de acordo as leis que regem o mercado capitalista.

Para que tudo isto ocorra é fundamental que tenhamos nosso órgão técnico revitalizado para nos respaldar.
Ele que foi construído com nossos recursos qdo chegamos a pagar nos primórdios até 15% de taxa de retenção da nossa produção para construí-lo e aparelha-lo, portanto nos pertence e não existe no mundo nenhuma instituição similar, que tenha tanto background e expertise em conhecimento acumulado, qto a Ceplac.
Entendo que se faz necessário que seja revitalizada dentro de outros paradigmas que construirão o futuro.

Assim, acho também que precisamos repensar, no sentido do foco principal de sua atuação. Pois, ela enxuta e sem interferência política, comandada por técnicos qualificados, certamente poderá contribuir muito com o novo momento.

Tomando como finalidade precípua atender ao binômio – pesquisa e assistência técnica – interligando as necessidades do produtor nacional a demanda planetária de hoje, que passa pela questão climática do aquecimento global, podendo ainda gerar recursos com créditos de carbono, compromisso ambiental e principalmente nos respaldando tecnicamente para construção de maior estabilidade de mercado.

Chegou o NOSSO momento de deixarmos de ser instrumento de controle do cartel industrial, para termos nossa carta de alforria.

Viva a autonomia e a independência da cacauicultura nacional brasileira!

 

Antônio Carlos Magnavita Maia é médico e cacauicultor.

 

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