A ativista Patricia Nicolau, porta-voz do cacau e chocolate pelo movimento internacional Slow Food, co-idealizadora do Coletivo Mulheres Pretas do Chocolate, participou do Slow Food Biocultural Territories in the Latin American e The Caribbean, em Sacramento, na Califórnia, Estados Unidos.
Durante o evento, com o tema Terra Madre Américas, ela abordou sobre a cadeia produtiva do cacau para além das questões da lavoura brasileira, apontando as relações que classificam o cacau como commodity e o silenciamento dos produtores e os atravessamentos enfrentados em cada território, sobretudo na região do Pará.
Atuante na área das políticas públicas para alimentação e produtora de chocolate bean to bar, Patrícia Nicolau fez defesa desses territórios do cacau e do trabalho da agricultura familiar que sofre com o protagonismo de atores que dominam os cenários das grandes negociações, impedindo o desenvolvimento do pequeno produtor.
A FORÇA DOS COLETIVOS
Na Califórnia, Patrícia Nicolau se encontrou com outros colegas do movimento e atuantes em diversas áreas da Agroecologia, mas que também fizeram relatos sobre as questões cacaueiras dos países de origem. A ativista brasileira apresentou como propostas as criações de coletivos que têm tido uma função para trazer relevância ao protagonismo dos pequenos produtores de cacau e chocolates, a ampliação da transversalidade do cacau nas diversas áreas da nutrição, comensalidade, relações pessoais e negócios.
“O valor atemporal do cacau, desde sua saída da América, silenciando a cultura alimentar do americano para aquecer outras relações na Europa e as transformações que moldaram o chocolate que temos hoje, dependente das produções que ofertam milhões de toneladas de cacau como a commodity mais amada e rentável do planeta”, afirma.
CACAU E SUSTENTABILIDADE
Segundo ela, “o cacau atende a todas as diretrizes que são prezadas pela sustentabilidade, a necessidade mais urgente e que possamos entender que o chamado fruto de ouro deve ser bom, limpo, justo e para todos e, mais do que isso, entender que a cultura vem da América para o mundo, não o contrário”. “Está intrínseco no americano ter o direito de prezar por um cacau dentro dos padrões agroecológicos ancestrais em toda cadeia, que conserva o bioma, a vida e a nutrição integral do chocolate proveniente desse sistema”.
Dentro das pautas que defende no Rio de Janeiro, Patrícia destaca que gostaria de ter falado sobre os pontos positivos que os governantes do Rio poderiam ter feito frente ao desenvolvimento da cultura do cacau no estado, mas lamenta o descaso dos atores que representam os órgãos municipais e estaduais da terra do samba.
“De alguma maneira, eu consigo entender que o Rio tem vivido dias mais evolutivos dentro da pauta do cacau. Quando eu cheguei aqui, as pessoas nem sabiam como utilizar para consumo próprio, hoje em dia, temos um coletivo com projeções futuras e o movimento está lindo e bastante progressivo, isso me enche a alma e, ter falado sobre o desenvolvimento do Rio no evento, me gratificou demais”, ressalta.
O meu papel de porta-voz e olhar para a causa do cacau produzido e beneficiado pelo pequeno e pelas mãos do pequeno, o diagnóstico a ser feito em territórios será longo e de grande valor para avançar com outras propostas dentro da cadeia do cacau e do chocolate, que possibilitem produtos de qualidade, sustentáveis, justos para todos e tenha equidade nos padrões de produção com diretrizes alcançáveis a todos”, finaliza Patrícia Nicolau.
MULHERES PRETAS DO CHOCOLATE
O Coletivo Mulheres Pretas do Chocolate surgiu em 2021, como uma estratégia de unir mulheres pretas que trabalham com a cadeia do cacau e chocolate, até o momento já reúne 19 participantes da Bahia, Rio de Janeiro e Pará. O projeto começou de forma virtual, devido à pandemia da Covid 19, com a iniciativa de Patrícia Nicolau (da Nicolau Chocolates) e Mailan Santos (do Chocolate da Mata), pela necessidade de unir forças provenientes de histórias análogas e parcerias em direção a construção de uma rede cada vez mais sustentável, dentro do contexto do cacau e chocolate.
O coletivo reúne produtoras tree to bar, bean to bar, agriculturas, fazendeiras e empreendedoras, que não tem foco no assistencialismo, mas no empoderamento da mulher negra; e traz o legado da cooperação “eu coopero com você, você coopera comigo, assim crescemos juntas”.
Fotos Lisa Nottingham