A indígena Glicéria Tupinambá, da Aldeia da Serra do Padeiro, em Buerarema, no Sul da Bahia, foi um dos destaques da Bienal de Veneza, na Itália, um das mais importantes mostras de arte do mundo. Glicéria integrou o grupo de artistas de várias etnias, que realizaram a exposição intitulada “Ka’a Pûera: nós somos pássaros que andam”
“Essa participação não é só minha, é coletiva. Venho representando mais de 120 famílias, levando e fortalecendo o nome do meu povo”, completa a artista, que é ativista e pesquisadora. Recuperando técnicas ancestrais de confecção de um manto sagrado, Glicéria foi a primeira indígena a liderar a comissão brasileira no evento.
Há pelo menos 400 anos não se faz um manto tupinambá. Glicéria é a primeira pessoa a refazer esse objeto ancestral raríssimo. Só existem 11 deles preservados, todos espalhados em países europeus. A exposição ocorre no mesmo ano em que um dos onze mantos tupinambá retorna ao Brasil após um longo período na Europa. Segundo registros oficiais, a peça, que os indígenas consideram sagrada, está em Copenhague desde 1689.
Resgatar a história e arte tupinambá é uma forma de reconhecer e valorizar a cultura e a história de um povo indígena que teve um papel fundamental na formação do Brasil.
Para Glicéria Tupinambá as artes retratam uma unidade indígena. “Aqui não é só a Glicéria, aqui é todo o território Tupinambá, toda a minha comunidade – 220 famílias – ou seja, é um trabalho coletivo de escuta sensível dos curadores, dos representantes da Bienal que lutaram para a realização deste sonho”, declarou emocionada.
Até 2001, os Tupinambá eram considerados extintos, mas o Estado Brasileiro reconheceu que o povo não só não havia sido exterminado, como também estava ativo na luta pela recuperação de seu território e de parte de sua cultura que havia sido removida durante a colonização.
(Fotos Divulgação)